“Se vês a caridade, vês a Trindade”

Dom Paulo Andreolli, SX  – Bispo auxiliar de Belém

           Amigos leitores, é chegada mais uma oportunidade para nossa conversa dominical neste dia tão importante para a vida da Igreja: a Solenidade da Santíssima Trindade. E com esta Festa chegamos na culminância do tempo litúrgico pascal. Para esta oportunidade, conto com as contribuições de Ir. Fátima Corpes, Missionária do Coração Eucarístico de Jesus.

Inicialmente recordamos o que nos afirma o Catecismo da Igreja Católica, em seus números 261 a 264:

“O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus pode dar-nos o seu conhecimento, revelando-Se como Pai, Filho e Espírito Santo. A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus é o Pai eterno, e que o Filho é consubstancial ao Pai, quer dizer que n’Ele e com Ele é o mesmo e único Deus.

A missão do Espírito Santo, enviado pelo Pai em nome do Filho e pelo Filho ‘de junto do Pai’ (Jo 15, 26), revela que Ele é, com Eles, o mesmo e único Deus. ‘Com o Pai e o Filho é adorado e glorificado’.

O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira; e, pelo dom eterno do Pai ao Filho, procede do Pai e do Filho em comunhão”.

Com esta introdução, reportamo-nos agora ao título deste artigo, que é uma bela e profunda afirmativa de Santo Agostinho: “Se vês a Caridade, vês a Trindade”. Essa frase vem interligar a virtude da Caridade e a Comunidade Trina, ou seja, falar da caridade sem se reportar à Santíssima Trindade, é praticamente impossível!

Queremos chamar a atenção dos leitores para o fato de que a Caridade e a Santíssima Trindade fazem parte da identidade cristã. Fomos criados por amor, para o amor e devemos ser sinais desse amor para todos aqueles que encontramos.

Na liturgia de hoje, todas as leituras convergem para a Solenidade deste dia. É interessante perceber que no livro de Provérbios, há uma afirmativa que nos leva a entender a sabedoria de Deus: “…antes de suas obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída” (Pv 8,23). O salmista reforça que o amor de Deus é imenso para com todas as suas criaturas, sobretudo com o ser humano – “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?” (Sl 8,5). Na segunda leitura confirma-se a razão de nossa confiança e esperança em Deus: “… e a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). E finalmente, no Evangelho, leitura central desta liturgia, o Evangelista conclui com estas palavras: “Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu.” (Jo 16,15). Diante disso, percebemos que que o amor do Pai, a comunhão do Filho e do Espírito Santo regem a história da Salvação e do cristianismo. Contudo, vale destacar que o rosto desse amor se traduziu em gesto e vida na pessoa do Mestre Jesus de Nazaré.

Por isso, falar da virtude da caridade sem remeter ao amor trinitário, é cair num profundo equívoco. Se a caridade é uma virtude teologal, ela se insere no próprio Deus que é uno e trino, cuja essência é o Amor, o amor verdadeiro, o amor ágape!

Vale lembrar a Carta Encíclica do Papa Bento XVI: “Deus Caritas Est” (Deus é amor). Na introdução, ele faz referência à Primeira Carta de João: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16). Esta encíclica se divide em duas partes. A primeira, intitulada “A unidade do amor na criação e na história da salvação”, trata do amor a partir de uma reflexão teológico-filosófica, considerando as dimensões: “eros”, “philia” e “ágape”. Fala do Amor de Deus pela humanidade e a relação essencial desse amor com o amor humano. A segunda parte, “Caritas, o exercício do amor por parte da Igreja como comunidade de amor”, evidencia como viver concretamente o amor ao próximo, ou seja, o exercício da caridade.

Pensemos: “Se vês a caridade, vês a Trindade”. Isso deve nos interpelar a viver a concretude deste amor-caridade que é parte integrante da Comunidade Trina, ou seja, é a Trindade que nos leva a praticarmos a solidariedade que é fruto dessa virtude. Como nos diz um trecho de um canto antigo, de Ir. Míria Kolling, bastante atual para nós: “Terá recompensa até um copo d’água. O amor que é verdadeiro se traduz em gesto e vida”.

Compartilhe essa Notícia

Leia também